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Archive for agosto \19\+00:00 2007

pulsar

pulsar

  

pulsar, pulsar

livre pensar

mergulhar no céu

deslizando entrestrelas

espelhadas no mar

  

pensar, pensar

ser livre e pulsar

ilustrar nossa história

co’amor infinito

e pela vida pulsar

                                                         

                   

                                                                                 andré pinheiro, 1998

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angústia

  

angústia

 

de olhos fechados,
vejo a terra girar…
sinto a dor e o alívio
da explosão dos sentidos
mergulhados no azul
  
em meio a tanta abstração,
na ânsia de entender
o que de fato não há,
eu tenho a boca aberta,
as mãos vazias,
rugas na testa,
uma grande agonia
  
que insiste
em invadir
a minha casa
e comigo morar

                                                    

  

                                                                          andrepinheiro, 1999

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um assombro de lugar

  

um assombro de lugar

desde ontem estou aqui em Rio do Oeste, um belo e pacato município localizado no Alto Vale do Itajaí, na microrregião de Rio do Sul, com área total de 245 Km² e a 276 Km de distância de Florianópolis. na população de 6.729 habitantes predominam os descendentes de italianos, com muitos descendentes de alemães também. pretos locais, até o momento, não vi. agora faz um frio de lascar os ossos. não há muito o que se fazer por aqui, além de ficar no computador, tomar um café que descolei na cozinha e ler os livros que trouxe.

estou aqui a trabalho, acompanhando a delegação itajaiense que disputa a 7ª Olimpíada Estudantil de Santa Catarina – Olesc. os jogos acontecem na cidade de Rio do Sul, que na minha opinião deveria receber o título de Capital Mundial da Ponte e promover anualmente a Festa Nacional da Ponte – Fenaponte. proporcionalmente, nunca vi tanta ponte numa cidade só.

falando em Rio do Oeste e Rio do Sul, ainda não encontrei – e olhe que estou procurando – Rio do Norte e Rio do Leste para completar a coleção. mas isso fica para outra vez… por enquanto, ressalto novamente a beleza dos lugares, como já fiz na primeira linha desse texto.

o misterioso convento

o mais curioso disso tudo, além dos jogos, que são sempre muito divertidos e interessantes, é o local onde estamos hospedados, aqui em Rio do Oeste. a Escola Estadual Básica Expedicionário Mário Nardelli é um lugar enigmático, intrigante.

a imponente e belíssima construção, que data dos anos 1940 – iniciada em 1944, conforme Euclides, que trabalha aqui – foi erguida para abrigar um convento, que funcionou por muitos anos no local. depois, as irmãs venderam o prédio ao Estado, que o transformou em escola.

até aqui, tudo bem. só por isso, o lugar já impressiona. afinal de contas, guarda muito ainda do ambiente que abrigou, segundo Euclides, mais de cem freiras. o prédio é amplo, mas bastante escuro. sombrio. principalmente a partir do final da tarde. muito bem estruturado, mas, ao mesmo tempo simples. a sensação é mesmo de claustro. a cor escura e o estalar do chão de madeira, as portas, as paredes reforçadas. os quadros e os crucifixos – sim, eles estão por toda parte! – e as escadas.

e, além disso, uma infinidade de entradas e caminhos – atalhos – extremamente discretos. estes, com uma ajuda da imaginação, tornam-se logo – ou não seriam mesmo? – passagens secretas. logo que pisei aqui, uma das primeiras lembranças que me veio à mente foi “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco. livro e filme. angustiante. perturbador. alguns arrepios são inevitáveis.

mas, como se isso não bastasse, veio logo a história. a princípio, apenas em forma de comentários soltos. pensei, ingenuamente, tratar-se de algo inventado para assustar a garotada dos jogos e fazer com que todos fossem dormir com maior facilidade. mas não. Euclides, o senhor que trabalha na casa, confirmou o episódio, ocorrido há sete anos: numa noite de outubro, uma menina de nove anos, filha de um casal de professores que aqui lecionavam, veio até a escola para esperar pela irmã mais velha, que estava no curso de dança.

quando estava em uma sala do primeiro andar, a menina, ao ver que as cortinas fechadas, sentou-se para ficar apoiada na janela, que ela julgava também estar trancada. mas não: a janela estava aberta… ao sentar-se e buscar apoio para as costas, a menina caiu… um rapaz, que estava ao lado, foi rápido e ainda conseguiu segurá-la por um dos pés. no entanto, quis o destino que ele ficasse apenas com um tênis na mão, enquanto a menina voava para a morte.

o fato chocou a cidade. segundo nosso relator, a comoção foi geral. ele, que já testemunhou o passamento de muitas pessoas importantes e abastadas, afirma nunca ter um funeral despertar tanta emoção e ser acompanhado por um número tão grande de pessoas.

perguntado a respeito de possíveis assombrações, aparições ou outras manifestações de espíritos – da menina ou de freiras desencarnadas -, o funcionário Euclides, extremamente religioso, é categórico ao afirmar a inexistência de qualquer presença do sobrenatural nas instalações da escola. de qualquer forma, a tragédia marcou a cidade e contribuiu para aumentar a aura de mistério em torno da casa. o nome da menina? prefiro não reproduzir neste texto, para não abalar o imaginário de algumas pessoas, que podem fixá-lo, e também para não perturbar o ser que rompeu os umbrais da existência de forma tão abrupta. esteja em paz.

andrepinheiro, 08/08/2007.

 

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o poeta

  

  

  

  

  

  

 o poeta

…e nessas minhas andanças, ruas afora, sempre me deparo com algumas figuras insólitas, indecifráveis, singulares. ou serão elas que se deparam comigo? quem, afinal, premedita – pré-medita – esses encontros??

há muito tempo – talvez anos – não acontecia, mas semana passada ocorreu outra vez. faltava pouco para as seis da tarde, quando estávamos eu e minha namorada fazendo uma hora ali no Samurai Lanches, antes de ir embora. e de repente surge ele: passo meio trôpego, expressão cansada no rosto maltratado, aparentando um ar totalmente confuso (“with no direction home / just like a rollingstone”, descreveria mestre Dylan). caminhava a princípio sem direção definida, quando nos avistou e veio até a nossa mesa. o aroma de cachaça que exalava nos atingiu antes que ele mesmo chegasse.

“eu sou poeta. querem ver minhas poesias?”, sorriu, entre outras frases e tentativas  desconexas de engatar um papo. “vocês são daqui? você trabalha no Porto?”, perguntou novamente, errando as duas tentativas de adivinhação sobre nós.

eu, particularmente, não estava muito sociável na ocasião. queria mais era ir embora e deixar para trás as memórias esquecíveis daquela bosta de dia chato, turbulento, frustrante. por conta disso, tivemos uma breve conversa, não muito cordial no início. depois, me dei conta que precisava ser mais educado e tratar bem o inesperado poeta. afinal de contas, eu poderia muito bem estar em seu lugar – quem dirá que um dia não estarei? – vendendo versos por um pouco de atenção e uns trocados para a bebida.

tudo bem que ele já estava um pouco grogue e provavelmente buscava dinheiro para beber um pouco mais; tudo bem que tentou puxar uma coversa mais que fiada e, nisso, acabou trocando “Leminski” por “Lewinski” – juro. é verdade! -, mas o que tenho eu com isso? no final das contas, entramos em comunhão: eu com algumas moedas e um dedo mínimo de atenção; Paulo Poeta – esse o nome dele – com dois poemas e a loucura que o mantém vivo, trafegando – a pé – pela contramão do way of life.

andrepinheiro, 6 de agosto de 2007.

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é o cão

é o cão

do cachorrinho de madame ao cão selvagem, existem diversos tipos de cachorros. tem ainda o cachorro sem-dono, o cão de guarda e o famigerado vira-lata-nosso-de-cada-dia. sem falar nas referências musicais, como o “cachorro-urubu” de Raul Seixas, o “rock da cachorra” do Dusek, as “cachorras”do funk e até o nome de uma das melhores bandas de rock da atualidade: Cachorro Grande.

mas entre todas essas variações em torno do nome do melhor amigo do homem, poucas causam tanto medo ou embaraço quanto o imprevisível e raivoso “cachorro louco”. auuuuuuuuuuuuu… auuuuuuuuuuuu… uivando para a lua, inquieto, aflito, agressivo; forçando a corrente como um detento que, desesperado, tenta romper os limites do cárcere.

o cachorro louco personifica o descontrole, a desordem, a destruição. é também o “lado escuro”, com o fiel companheiro do homem metamorfoseado, repentinamente, em monstruoso algoz. como se o amável animal de estimação sorvesse a mesma poção que transforma dr. Jekyll em mr. Hyde.

também pode ser vista no raivoso animal enlouquecido a desafiadora ousadia do atacante que recebe a bola e dribla um, dois, três beques para depois deixar ainda o goleiro no chão e marcar o gol da virada. ou então o defensor que divide sem perder a viagem e salva todas, inclusive em cima da linha, para impedir a festa adversária.

essa força está também no artista engajado, politizado, visionário, que late (e muitas vezes morde) por meio de poemas, canções, manifestos e outras obras. ou então na teimosia da trabalhadora e do trabalhador que acordam cedo e, diariamente, defendem a própria sobrevivência. o cachorro louco é como o profissional da imprensa que, indignado, não hesita em denunciar os erros e engodos que a covardia dos meios de comunicação insiste em esconder, visando o beneficio próprio ou de outrem.

semelhante ao cachorro louco é a criança que faz birra, grita, chora e esperneia. é o outsider, o grevista, o exu. transgressão: o espírito rock and roll. encrenca, turbulência, nuvem negra. tempo ruim, confusão. não sei ao certo, mas será por isso que em algumas regiões do Brasil o “coisa-ruim” recebe justamente o apelido de “cão”?

para os hegemônicos e aristocratas, cachorro louco é a designação para toda aquela gente feia e excluída, que reivindica seus direitos, protesta, incomoda. gente revolucionária, que fala alto, vai à luta, coloca o bloco na rua e não se contenta com pouco. que possamos, então, utilizar de modo produtivo e positivo toda a fúria de viver e, como cachorros loucos que somos, aproveitar as oportunidades do nosso tempo para avançar sobre as desigualdades do mundo e latir, bem alto, por um futuro melhor.

andrepinheiro, julho de 2006.

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